Laura Assis
desgovernado
Olho a tela branca e meu coração grita palavras que não compreendo
Meus dedos se perdem em meio a tantas insatisfações
A cada dia mais mudos, as línguas cortadas, bocas costuradas
E por mais que eu me esforce, o jornal só traz decepções
Em casa me ajoelho, peço, imploro e às vezes até choro
Mas o desgoverno se instalou cheio de convicções
Sento em meu sofá confortável e encho a minha taça de vinho
Mas não durmo à noite, são tantas preocupações!
Não por mim, mas às vezes sim, e sim pelos que choramingam
Que vivem sentados nas vielas, contabilizando refeições
Eu não sei se há algo errado com meu coração, minha consciência
Mas tenho sofrido nesse lugar superlotado de charlatões
E digo outra vez, não é por mim, mas por quem ainda está começando
Porque vejo que a vida pode vir a ser repleta de contrarrazões
Onde o rei abomina seu próprio povo e vive alucinado, alienado
Castigando sobretudo aqueles que não aguentam mais os grilhões