- Laura Assis
Quase nada
Desculpe-me, mas eu preciso dizer
Que você não entrou em mim
Como um sol que invade o quintal
Eu preciso te dizer, agora
Olho pra você todos os dias, cedo
E penso que o meu amor está por aí
Que não é você, não pode ser
Porque se isto for amor
Não, isto não é como quando a nuvem
Sai da frente do sol e ele volta
E a gente sorri, feliz
Desculpe-me, mas eu preciso dizer
Que você não chegou como ventania
Balançando e tirando tudo do lugar
Você chegou mais como o jornal
Que sabemos que vem todas as manhãs
Eu olho pra você antes de dormir
E penso que foi bom sentir
O seu corpo suado no meu, mas
Seria bom dormir sozinha hoje
Ou seria bom se você fosse ele
O meu amor e eu pudesse, agora
Conversar sobre a minha poesia
Dramática, às vezes ridícula
Porque ele não viraria os olhos
E nem concordaria cada vez que
Irritada, eu dissesse a mim mesma
Que sou nada, que sou fraca, miserável
Desculpe-me mas eu preciso te dizer
Agora, de uma vez por todas
Que tenho preenchido um espaço
Vazio com a tua presença
Mas a ausência do teu coração aqui
Torna tudo isto um vazio ainda maior
E dia após dia estou transformando
Uma espera que deveria ser magnífica
Numa transa onde usamos o pouco
O quase nada que outro pode oferecer