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Cláudia Lemes

Qual o gênero você escreve?

Suspense e thrillers policiais.

Como a literatura começou em sua vida e qual foi o momento crucial que a fez decidir se tornar um escritor?

Escrevo desde adolescente, mas só publiquei em 2012, começando com dramas e livros eróticos e migrando para thrillers. Eu acho que nunca "decidi" me tornar escritora. Eu amava escrever e acabei publicando de forma independente apenas pela vontade de tornar minha obra disponível para alguns leitores. Eu não esperava que desse certo, mas acabou dando, então fui escrevendo cada vez mais, estudando escrita e me empenhando em divulgar meus livros. Em 2018, percebi que já podia viver de literatura e larguei meu emprego anterior - eu era professora de inglês e tradutora.

Muitos escritores usaram a literatura como uma ferramenta para abordar questões sociais e políticas. Qual é a sua visão sobre a responsabilidade do autor no que diz respeito a abordar temas relevantes em sua obra?

Não acho que nenhum autor é obrigado a fazer uma crítica social nos seus livros. O que acontece é que somos observadores atentos da sociedade, então acaba sendo muito difícil não incorporar essas questões nas nossas obras de uma forma ou outra. Acho que quando isso é bem-feito, os temas estão nas entrelinhas, nos personagens e em suas histórias, e não de forma "contada", explícita no livro como um textão de Facebook. Sobre responsabilidade, acho que o autor deve mostrar sua visão de mundo ou inserir perguntas relevantes em sua obra, mas deixar que o leitor converse com essas perguntas, em vez de impor as respostas.

Muitos escritores têm rituais ou hábitos de escrita. Você tem algum ritual ou método específico que o ajuda a entrar no "modo escritor" quando está criando?

Não tenho rituais. Tento pensar muito na história antes de escrevê-la, e respeito meu processo, que é um vai-e-vem entre planejar, pesquisar, escrever e revisar, de um jeito meio cíclico. Já percebi que é isso o que dá certo para mim, e ter um processo evita muito desgaste e perfeccionismo que impactam negativamente a obra. Tenho algumas manias, como escrever sempre na formatação Times 14 com espaçamento simples e texto justificado. Sem esse formato, não consigo escrever. E às vezes para entrar nos personagens, frequento lugares que eles frequentam, uso perfumes específicos, como o que eles comem, e aprendo um pouco das suas habilidades. Aprendi a atirar, por exemplo, e fiz um curso de auxiliar de necropsia, tudo para me conectar com personagens.

Muitos escritores encontram inspiração em suas próprias experiências e vivências. Você acredita que suas vivências pessoais desempenham um papel significativo em sua obra?

100%. Tudo o que eu sou, sinto, penso e vivi está em cada palavra do que escrevo. Não consigo imaginar escrever de outra forma.

Em sua opinião, quais são os principais desafios enfrentados pelo mercado literário nacional atualmente?

É um mercado limitado pelas imposições financeiras - a impressão é cara, o frete é caro, o modelo de negócios das livrarias físicas é quase insustentável. Para ter o mínimo de lucro é preciso vender muito e é o mercado mais competitivo do mundo, porque cada livro está concorrendo com todos os livros já escritos. Ao contrário dos outros mercados, cujos produtos têm ciclos de vida bem limitados (ou seja, compramos a novidade, o lançamento), os leitores querem ler todos os livros - tanto aqueles lançados à mil anos quanto as super novidades. Competimos com livros do mundo inteiro. E cada vez mais tem mais gente escrevendo. Além disso, o consumo do livro como produto é lento. Um filme é visto em 2 horas, um alimento é consumido em 10 minutos. O livro precisa de investimento de tempo, do leitor. E tempo é algo cada vez mais precioso e escasso. Destacar-se num mercado desses é extremamente difícil. Não apenas você tem que ser um bom escritor, mas tem que saber se divulgar e se marketear, e tem que fazer isso por muito tempo para ser notado.

A literatura nacional tem um lugar especial na formação da identidade cultural de um país. Como você acha que sua obra contribui para a representação da cultura e da sociedade brasileira?

Eu não acho que minha obra contribuiu para a representação da cultura e sociedade brasileira. Também não penso muito nisso. Quero apenas contar boas histórias, não decifrar o brasileiro, até porque ele é complexo demais. Quero apenas colocar verdades nas minhas histórias. Acho que consegui retratar, por exemplo, a polícia e a investigação no Brasil como elas realmente são, e fico feliz sempre que ouço que um policial ou delegado gostaram das minhas obras. Não tenho ambições fora oferecer aos meus leitores uma leitura impactante.

Agora, falando sobre o seu próprio trabalho, quais são as influências e temas que mais o(a) inspiraram ao escrever?

Eu amo falar de pessoas, de comportamento humano, e claro, de violência, porque acho que ela é infelizmente parte intrínseca da experiência humana. Gosto de explorar pessoas comuns vivenciando traumas e desafios extremos. Gosto de como cada personagem nasce com potencial para fazer um grande bem ou mal, e de explorar as escolhas - e a falta de escolhas - que por fim os transformam em heróis ou monstros.

Sua obra aborda questões específicas da cultura brasileira? Se sim, que temas você considera mais importantes e por que? Se não, gostaria de falar brevemente sobre o universo em que sua obra está situada?

Eu não consigo determinar se minha obra aborda questões específicas da cultura brasileira. Eu escrevo sobre o que observo. Gosto de replicar a forma como os brasileiros falam e se relacionam, por exemplo. De como estabelecem amizades e relações de parceria, de como buscam conforto a ponto de fugirem da realidade para se preservarem, talvez. Mas não existem absolutismos quando se fala sobre o Brasil, de forma que dizer "o brasileiro é isso" ou "o brasileiro é aquilo", é abrir portas para discussões que não levam a nada. Novamente, eu não tenho essa pretensão, de desvendar o brasileiro. Tenho obras que se passam em São Paulo, tanto em paisagens urbanas quando em rurais. Mas também tenho livros ambientados no Alasca, na Flórida e em Las Vegas. Eu vou onde a melhor história está sendo contada e não acho que preciso justificar essas escolhas, sabe?

Como você lida com a crítica literária e o feedback dos leitores? De que forma isso afeta seu processo de escrita?

Eu acho impressindível, principalmente na era das redes sociais, que o autor saiba a diferença entre uma crítica literária e uma opinião de leitor. As duas coisas importam, mas é com muita cautela que devemos ler o que escrevem sobre nossos livros. Quando um editor sério, um crítico literário ou outro escritor me dão feedback, eu presto atenção. Principalmente no que é dito muitas vezes. Já com leitores, precisamos entender que são opiniões válidas, mas que nem todas devem se instalar nos nossos corações. Elas servem para entendermos o perfil do nosso leitor, mas não para ditar como devemos escrever. Esses dias uma moça criticou um "furo" no meu livro. Segundo ela, uma personagem minha era casada, mas não se falava mais nada sobre o marido dela no livro. Esse livro foi editado por uma das melhores editoras do mercado, já foi lido centenas, se não milhares de vezes, ganhou o Prêmio ABERST e foi indicado a um Jabuti e ninguém nunca tinha mencionado isso antes. Preocupada, revirei o original atrás de qualquer indício de que a personagem era casada e não encontrei. Em nenhum lugar é dito que ela é casada - muito pelo contrário. Então de onde veio uma crítica dessas? Entende que esse é o tipo de coisa que não dá para levar a sério? Que ouvir o que todo mundo diz vai deixar o autor completamente paralisado de medo? Ou na melhor das hipóteses, nervoso e se sentindo injustiçado. Muito do que é dito sobre nossos livros não faz o menor sentido. E tudo bem. Assim como o leitor não tem obrigação nenhuma de entender profundamente os mecanismos da escrita literária, o autor não tem obrigação nenhuma de levar todas as opiniões a sério. Ninguém é obrigado a nada. Hoje, eu sei exatemente o que quero escrever, e não deixo ninguém me dizer o que devo escrever. Isso não significa que acho que sou perfeita, até porque continuo estudando e tentando me superar a cada livro escrito, continuo me inspirando em autores muito melhores do que eu. Eu só permito que as críticas fiquem no espaço delas e não me atinjam de forma negativa. Uso o que posso, descarto o resto. E é assim que a arte precisa ser.

Quais são os projetos literários em que você está trabalhando atualmente? Como eles se encaixaram em sua trajetória como escritor?

Estou escrevendo um novo thriller, mas ainda não estou apaixonada por ele, o que significa que precisarei fazer muitos ajustes, principalmente de personagens. Se for publicado, será meu nono thriller. Além disso, estou escrevendo quatro livros de não-ficção como ghostwriter.

Para encerrar, qual mensagem você gostaria de transmitir aos leitores e à sociedade em geral sobre o valor da literatura e da escrita em nossa cultura?

Eu queria que os leitores enxergassem a literatura como uma ARTE. Ela não tem obrigação de agradar o leitor num âmbito personalizado. Ela está no mundo porque tem algo a expressar, e esse algo tocará profundamente algumas pessoas e não outras. E é assim que deve ser. Os personagens não têm obrigação de fazer o que o leitor faria. O final não precisa ser justo. O livro não é customizável e não deveria ser.

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